Opinião
Por que Netflix e Spotify estão de fora do Apple Vision Pro
Imagem: Apple / Reprodução
Um mau relacionamento que acabou prejudicando os consumidores
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Quando o Apple Vision Pro chegou aos olhos dos consumidores norte-americanos em fevereiro deste ano, muitos notaram duas grandes ausências na App Store do visionOS: Netflix e Spotify. Procuradas pelos sites de tecnologia, ambas disseram que não estão interessadas em levar seus apps para a nova plataforma. O YouTube também se mostrou relutante inicialmente, mas voltou atrás no discurso, apesar de ainda não ter se mexido para lançá-lo.
O visionOS consegue rodar apps feitos especificamente para o iPhone ou iPad em modo de compatibilidade de forma similar aos Macs com Apple Silicon. E, assim como acontece também nos Macs, os desenvolvedores têm a opção de dar um opt-out nessa possibilidade, impedindo que seus apps estejam disponíveis na App Store desses outros dispositivos. Parece ilógico: por que um desenvolvedor impediria que seu app funcionasse em mais plataformas, sem trabalho nenhum?
A primeira questão é que não é tudo tão simples como parece. Apps complexos podem não funcionar corretamente quando “traduzidos” para outras plataformas, principalmente com formas de interação diferentes (no iPhone/iPad, você interage com o toque ou cursor; já no Vision Pro, com os olhos e o gesto de pinça). Algumas APIs ou recursos podem não estar disponíveis entre plataformas e, algumas vezes, o próprio layout não foi pensado para formatos maiores. As pessoas gostam de cobrar essa interoperabilidade dos desenvolvedores, quase como uma obrigação, quando a própria Apple também não dá o exemplo: o Apple Music Classical não está disponível no Mac e no Vision Pro, assim como outros de seus apps (Clips no Mac? Pages e Numbers no visionOS?).
Já o relacionamento da Apple com empresas como Spotify e Netflix vem se distanciando desde que os processos por monopólio começaram a surgir. É fato que elas não têm mais “boa vontade” em ajudar a Apple a alavancar seus novos produtos e, querendo ou não, apps populares são essenciais em qualquer plataforma — quem lembra do fiasco do Windows Phone, que não tinha apps básicos?
O Spotify acusou recentemente a Apple de fazer uma alteração no iOS que passou a impedir que o Spotify Connect utilizasse os botões físicos do iPhone para controlar o volume da música, enquanto o Apple Music tem qualquer tipo de acesso ao iPhone por ser desenvolvido pela mesma empresa que faz o sistema operacional e o hardware. Enquanto isso, a Netflix se recusa a integrar seu catálogo ao app Apple TV, possivelmente com receio de entregar dados valiosos de seus programas a uma grande concorrente — a Apple entrou no mercado de streamings em 2019 para competir com a Netflix. Seria uma experiência incrível para o usuário de Apple TV ter todos os seus streamings em um só app, claro, mas temos que lembrar que a Netflix também é uma empresa capitalista tentando sobreviver em um mercado já saturado. São negócios.
E falando em negócios, temos ainda as projeções de vendas do Vision Pro. Será que o mercado é grande o suficiente para as empresas dedicarem equipes de desenvolvimento para a plataforma? Talvez não seja. Muitos apps também não estão disponíveis no iPad e muito menos no Apple Watch: quem lembra quando o watchOS tinha Uber, Tinder, Instagram, Twitter e outros nomes famosos? Todos foram descontinuados com o passar dos anos. É um dilema: enquanto o Vision Pro não estiver consolidado, os desenvolvedores não vão ter tanto interesse nele. Ao mesmo tempo, se os desenvolvedores não tiverem interesse nele e criarem apps incríveis para o visionOS, será que os consumidores se interessarão?
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